terça-feira, 25 de dezembro de 2007

.?.?.?.?

prá que escrever mesmo?
prá que me manter saudável mesmo? prá que falar de mim? prá que aplausos?
prá que andar? prá que passar por cinco portas até chegar em casa?
prá que serve a longevidade mesmo? prá que mesmo os salgadinhos agora têm 0% de gordura trans e são fontes de vitaminas e minerais? na minha época eles eram apenas "tranqueiras".
prá que mesmo eu devo me conhecer melhor? prá que mesmo eu devo saber me controlar? prá que mesmo eu eu tenho que ter pensamentos positivos? prá que mesmo eu tenho que ser equilibrada? prá que mesmo eu tenho que saber cuidar de mim? prá que mesmo eu tenho que esperar o inesperado? prá que mesmo ser cooperativo? prá que autonomia?


por que não estranhar esse mundo? nós?

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

um apelo?

(...) você é um atriz. Seu lugar é o palco e não uma sala de aula.
x. x. Diretora teatral.

Quando foi mesmo que o artista abandonou a sala de aula?

Não foram somente as salas de aula que o artista contemporâneo desertou, mas inclusive a própria existência da transmissão do legado cultural herdado de nossos antepassados, leia-se a continuidade do mundo e a responsabilidade de apresentá-lo às novas gerações.
Ao optar por uma carreira artística, o indivíduo não apenas decidiu o que faria de sua vida, ele automaticamente se torna representante de tal tradição, sendo responsável pela sua continuidade, para que esta ainda se mantenha viva para as novas gerações quando a sua for uma lembrança distante. Assim como ele só pôde conhecer tal arte porque seus antepassados cuidaram para que esta se conservasse por entre os fios do tempo através de sua transmissão de geração em geração.
O que leva os nossos artistas de hoje a abandonarem as salas de aula? A restringirem seu ofício à criação, desvinculando-a do ato de narrá-la aos que no mundo ficarão, seja em salas de aulas ou em quaisquer outros lugares.
O que se tem hoje é o catastrófico e impossível divórcio entre o educador e o artista. Impossível porque não se sabe quando e nem porquê e nem a favor de que. Será porque a experiência da arte de narrar está em vias de extinção? Será devido à ruína no mundo ético? Será em decorrência da valorização narcisística do sujeito?
Deleuze cria uma analogia síntese que nos remete ao modo de vida do homem moderno e do atual: a toupeira e a serpente.
Passamos de um animal a outro, da toupeira à serpente, no regime em que vivemos, mas também na nossa maneira de viver e nas relações com outrem. (DELEUZE 1990, p.220)
É nas relações com outrem e principalmente com os mais novos que repousa a interessante metáfora. A toupeira constrói galerias subterrâneas, em meio à escuridão da terra leva uma vida laboriosa, cuida de seus herdeiros, é um animal cooperativo antes de tudo.
Já a serpente não constrói túneis subterrâneos: não deixa legado algum para trás. Não anda em bando, é solitária. Seus movimentos são ágeis, rápidos, ondulatórios, sempre à espreita do bote. Os outros são seus concorrentes, não importa quem seja.
Então, serão então as relações reptilizadas de hoje a causa desse infeliz divórcio?
Precisamos, pois, urgentemente de artistas que tenham um compromisso ético-politico para com o mundo teatral e para com os novos que chegam ao mundo humano. Antes que seja tarde.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

um comentário seinfieldiano

Como é difícil encerrar uma conta bancária!!!! è pior que terminar um relacionamento de anos. O pior é que o banco não aceita que você queira encerrar a conta sem ter um motivo. Se você diz "então... santander, eu encontrei um banco melhor, e nós estamos juntos já faz algum tempo..." ele ao invez de desligar o telefone, ele ainda oferece vantagens para você continuar na relação, pergunta se há algo que o banco possa fazer para que eu não encerre a conta, que afinal já faz dois anos que a conta está aberta..... Nem adianta reclamar das filas, dos caixas eletrônicos quebrados, da espera no bankfone para fazer uma reclamação, da taxa mensal absurda, da falta de suporte, do gerente gordo que sempre está em almoço, dos aposentados que sempre pegam o seu lugar na fila, das cobranças indevidas etc etc etc etc, porque daí além de ouvir pacientemente o banco vai se propor a mudar: daqui prá frente tudo será diferente..... Todos os argumentos serão replicados!!!!! Gente!!! mas é só uma conta bancária!!!!!!!!

uma iluminação

como eu escrevo merda!!!!!!!!

domingo, 23 de setembro de 2007

um inverno

Tive um inverno sem cachecóis...

um comentário

viver... às vezes dá uma preguiça...

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

um dia ... sem final.

Um dia eu acordei e pensei é hoje!
Abri a janela, deixei o sol bater na minha cama juntamente com a brisa leve da manhã, para trazer sorte.
Me levantei, tomei um longo e demorado banho, passei hidratante, perfume, coloquei um vestido de chita, arrumei o quarto, organizei as coisas, fui à feira e comprei lindas berinjelas roxas para enfeitarem a fruteira. Troquei os tapetes, penteei o cabelo, pintei as unhas de vermelho, cor de "deixa beijar", organizei a estante dos livros, coloquei bilhetes de amantes em alguns lugares estratégicos de modo que parecessem que estavam ali por distração e não de propósito. Arrumei um vaso de porcelana chinesa para colocar as flores que provavelmente iria receber mais tarde.
Acendi incenso de cravo, escondi todos os cinzeros da casa. Separei os Cd´s e as piadas que deveria contar para quebrar o gelo, pensei de que seria interessante falar e o que não deveria jamais falar. Ensaiei poses, gestos, risadas, me olhei várias vezes no espelho só para confirmar que eu ainda existia, que eu não tinha ido embora.
Sentei na poltrona de almofada laranja e esperei. Esperei... esperei pelas rosas vermelhas que nunca chegaram, esperei até a berinjela roxa ficar rodeada daquelas mosquinhas de fruteira, até as minhas piadas ficarem sem graça para mim, até o perfume se dissipar, até o tapetes precisarem serem trocados novamente, até as unhas se descascarem, até o vento, o qual antes tinha sido uma leve brisa matinal, levar todos os bilhetinhos que eu tinha separado pela casa toda... não me olhei mais no espelho, porque não queria estar mais ali, mas, então, quem abriria a janela no dia seguinte?
Esperei, esperei que fosse doce e repetia "que seja doce" sete vezes, para dar sorte. Esperei pelo cheiro de alecrim entrando por debaixo da porta, esperei continuar esperando ali sentada junto da almofada laranja, que não sabia de nada.
Que seja doce, que seja doce... eu poderia ouvir o barulho do elevador pelo menos, para pelo menos ter alguma coisa a esperar.
Que seja doce, que seja doce, que seja doce... talvez o cheiro de cravo estivesse muito forte.
talvez o vestido não tenha sido uma boa opção. Talvez eu tenha esperado demais.

sábado, 8 de setembro de 2007

um conto de fada

Era uma vez...
numa metrópole não muito distante, uma jovem muito bonita. Era véspera de feriado e ela queria sair para dançar. Vestiu sua melhor roupa, passou o melhor perfume a melhor maquiagem, colocou o salto alto se encontrou com os amigos à meia noite, em alguma catraca de algum metrô.
Entraram na discoteca, ela bebeu um pouco, olhou um jovem que passou na sua frente e ele olhou para ela. Os dois se olharam, se beijaram, beijaram, conversaram um pouco, ele anotou o telefone dela no seu celular, se despediram, ele não ligou, ela não esperou e viveram felizes para sempre.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

uma desesperança

Foi quando eu olhei para o meu lado esquerdo e vi. Vi a moto, a bolsa com a alça quebrada, duas pernas no ar caindo vagarosamente no chão pontuada com um barulho... e tudo tão rápido, e tão lento ao mesmo tempo.
Foi quando eu olhei para o meu lado direito, e vi. Vi pessoas esperando ônibus, coversas, milk shake de ovomaltine, cigarros, telefones,risadas, discussões... tão distantes e tão perto ao mesmo tempo.
Foi quando eu olhei para o lado esquedo e vi a moto no chão quebrada, a buzina do carro, duas pernas no chão tentando se mexer, a alça da bolsa quebrada, as pernas, o asfalto segurando aquelas pernas... aquele chão, tão indiferente, inabalável, como se já estivesse acostumado a segurar tantas pernas, tantos corpos, tanto sangue, tantas dores, tantas ansiedades, tantas pressas, tantas vontades, tantas ilusões, tantos... tantas.... que tudo que lhe resta agora é ficar alheio a tudo, assim como o milk shake, o ovomaltine, o cigarro, tudo isso que leva uma vida ascética.

domingo, 26 de agosto de 2007

um eu

o eu quer se encontrar,
o eu não quer se comprometer,
o eu tem problemas com as linhas,
o eu tem um tempo interno,
o eu quer ser entendido, compreendido, amado querido simpático
o eu é um saco

sábado, 25 de agosto de 2007

um lugar

O meu lugar tem sol, o meu lugar não tem teto, o meu lugar tem porta, o meu lugar tem bastante vento, o meu lugar tem samambaia, tem flores amarelas e bancos amarelos, o meu lugar é amarelo, o meu lugar tem música, o meu lugar canta, no meu lugar as pessoas rezam, o meu lugar tem vida, o meu lugar tem maçãs, o meu lugar respira, o meu lugar... O meu lugar é branco, o meu lugar não tem janela, no meu lugar as pessoas vestem branco, no meu lugar ninguém acredita em mim, o meu lugar tem várias camas, tem quartos,remédios, é organizado, é sério, é limpo, é sadio, é normal, é planejado, é anti-séptico, é anti-alérgico, anti-bacteriano, anti-mofo, anti-fungo, o meu lugar é cinza.

uma moça com uma margarida na mão

Bem me quer...
Mal me quer...
bem me quer....
mal me quer...
bem me quer....mal me quer... talvez me quer....talvez não quer...um dia quer.... outro dia não quer.... nunca quer... não sabe se quer... depois quer... nem pensa se quer... pensa que não quer... não quer... quer... não quer... quer... não quer... não liga... não vai... não chora... briga... bate a porta... xinga... se fode... volta... implora... bebe... cheira... fuma.... envelhece... e morre de ataque fulminante.

domingo, 19 de agosto de 2007

uma tragédia urbana

Ela não acordou no horário, ele foi pontual no trabalho.
Ela parou para comprar chocolates, ele nem almoçou.
Ela ficou até um pouco mais tarde no trabalho, ele foi direto para o ponto de ônibus.
Ela foi ao cinema pegar a sessão das 19hs, ele pegou a sessão das 20hs.
Ela saiu com a sensação de que tinha esquecido algo, ele saiu procurando um chocolate.
Ela chegou em casa e pensou que não poderia se atrasar de novo, ele chegou pensando que poderia chegar atrasado amanhã.
e de novo, passaram mais um dia sem se encontrar. Um dia que poderia ter sido e que não foi....

domingo, 12 de agosto de 2007

um blog

Hoje eu levantei ... e daí eu fiz... , fiz, fiz, fiz, fiz, fiz, fiz, e daí foi um sucesso, porque eu percebi, reconheci e tive a sacada, daí eu continuei fazendo, fazendo, fazendo, fazendo, fazendo, fazendo...

Então, eu, eu, eu, eu, eu e todo meu universo pessoal, e toda a minha super experiência, todo meu brilho, tudo que sei, o que pensei, o meu dia, as minhas horas, os meus minutos, a minha visão, e minha opinião e tudo, e sempre...

Agora é a parte em que eu faço uma reflexão sobre o dia que tive em primeira pessoa, e lanço uma mini filosofia de bolso para que as pessoas desliguem o computador pensado: nossa... que pessoa expansiva, viva, perspicaz, alegre, jovem, inteligente, e como ela consegue fazer tanta coisa!!!!

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

um a menos

Talvez viver seja isso... talvez, seja isso mesmo... ou será que é isso?
Ou, talvez não seja nada disso, nada. Talvez fosse outra coisa... alguma coisa além disso...

Talvez não seja. simplesmente não seja.

Talvez não seja nem um ponto final, nem uma vírgula, nem uma interrogação... nem nada... nem tudo....

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Um saco

Eu sei que eu tenho que ser mais gentil com as pessoas, respeitar o tempo do outro, ter mais paciência... mas se eu embasso na catraca do busão a galera já começa a xingar. Que não devemos jogar lixo na rua porque a rua é um espaço público, então porque eu sou obrigada a ouvir a música que o cara do carro ao lado está ouvindo, só porque o fofo faz questão de por o som no último volume? Que eu não posso maltratar os animais e que tenho que dar o pão a quem tem fome e água a quem tem sede, mas se eu for demitida eu vou ser chamada de incompetente, e vai ser foda arrumar outro trampo.
eu sei que tenho que... mas eu acho um saco a pessoa que acorda de bom humor e chega no trabalho às 08:00hs da manhã de bom humor!!!! Eu sei... e acho um saco. Acho um saco ter que comer dorianna de manhã porque "me dá força para chegar muito mais alto", comer sucrilhos "para despertar o tigre em mim", lavar minha roupa com omo porque "me sujar faz bem", fazer tai chi porque "me dá mais autocontrole, me ajuda a ser mais paciente e respeitar o tempo do outro". E sempre alguém vai dizer que cidade dos anjos é um filme liiiiiiiiiiiiindo que tem que assitir.... mas eu num tenho saco nem prá iiiiiiiiiiiiiiiisso.
Acho um saco tudo que sei e me fizeram saber.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Uma chance

Depois de todos os furacões, de todas as enchentes, das guerras, das injúrias, depois de todos os sonos perdidos, de todas promessas desfeitas, de todas mentiras ditas, depois de tudo isso, foram de mãos dadas comer algodão doce na praça do correio. Afinal de contas, o amor é feito de coisas banais. Não é mesmo?

terça-feira, 17 de julho de 2007

um adeus

então, eu acho que a gente não tem necessidade de se amar, sabe? sei lá... acho que podemos ser sinceros um com o outro e dizer que... a gente não se gosta mesmo, que nunca se gostou, apenas nos suportamos inevitavelmente, porque de uma forma ou de outra eu dependi de você e você de mim. E nessa convivência suportada até que tentamos ser felizes, tentamos até que bastante coisas; tentamos travar diálogos, compartilhar experiencias; ver tv juntos; tentamos jantares em restaurantes; tentamos sorvetes no sotozero; caminhadas dominicais; viagens; ensinar coisas um para o outro; tentamos ser amigos e amantes; tentamos montar trilhas sonoras que foram o nosso fundo musical; tentamos piadas engraçadas; risadas; terapias; poesias; testemunhos no orkut; manter distância; ser legais; ser compreensivos; ser paciente; ser politicamente correto; a manter a espinha ereta e o coração tranquilo; nos manter sempre jovem, bacanas, dispostos, bonitos, arrumados, cheirosos, depilados, inteligentes e bem humorados; tentamos ficções; tentamos ter saudades um do outro; tentamos nos agredir menos, sermos mais educados, tentamos pedir emprestado antes de pegar as coisas do outro; tentamos cartas em envelopes vermelhos; tentamos o "por favor", o "obrigado", o "muito obrigado", o "de nada", o bom dia-boa tarde-boa noite"; tentamos '''Eu te amo"; abraços; beijos; toques, tímidos porque você nunca gostou muito que te pegassem; tentamos ter assunto todas as noites em que o silêncio era mais forte que as nossas certezas; tentamos até ter gatos em casa para espantar o mau olhado, mas você na verdade nunca gostou de gatos, nem de bicho nenhum. Ensaiamos flores no dias especiais, mas elas sempre murchavam no segundo dia, talvez pudéssemos ter posto algumas aspirinas no vaso das rosas vermelhas, dizem que assim as flores duram mais tempo. O que sobrou? Disso tudo só restou mesmo o "por favor", não! na verdade só sobrou mesmo o "favor", o favor que um faz em suportar o outro, e só... porque é só isso mesmo.
Então, admitamos o nosso fracasso, sem dramas, sem pedidos de desculpas e perdão, e apenas deslizemos sem excessivas aflições de sermos felizes.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Perdi...

Eu perdi uma blusa que gostava muito e custou muito caro, minha saia mais bonita e meu CD da Frida. Perdi também o CD da Madonna que meu amigo me emprestou... até hoje ele não sabe disso, e o CD da marcha nupcial que uma amiga me emprestou uma vez... só que ela sabe que eu perdi o CD dela. Perdi guarda chuvas, um brinco de ouro da Natan que eu ganhei quando fiz 15 anos, perdi minha identidade umas duas vezes, meu patins, minha barraca da turma da mônica, várias partidas de buraco, a chance de ficar calada quando deveria, e de dizer "eu te amo" para quem eu deveria. Perdi a oportunidade de responder a uma ofensa, perdi minha tartaruga, meu vô, minha vó, perdi duas grandes amizades, três amores platônicos e um amor distante. Perdi o ônibus várias vezes, perdi a hora, perdi o ritmo, perdi a chave de casa, trabalho, dinheiro, paciência, perdi o ponto, a prova, alunos, o calendário, a agenda, o ingresso, a cabeça, o estojo, o contato, perdi o vício, perdi a deixa, a fala; a infância, o jogo, o filme, o sono, sonhos, idéias, a fome, a memória, a senha, o telefone, perdi a conta, 2 %da vista, o ar... mas, nunca perdi o vôo.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Um desejo

Se a linguagem exprime, não o faz na medida em que emite ou reduplique as coisas, mas na medida em que manifesta e traduz o querer fundamental daqueles que falam” M. Foucault


Se eu pudesse com essas sete linhas fazer você desamarrar seus sapatos apertados e se deixar levar pelas vírgulas que eu fosse pondo nesse caminho de reticências, daí, então, eu faria você respirar tão profundamente que o seu peito explodiria com a expansão das suas costelas.... com esse papel e essas palavras eu poderia fazer você se perder e se esquecer ao longo das curvas sinuosas formadas pelos meus pontos de interrogação, para, finalmente te assoprar para outros mundos com o meu ponto final.

domingo, 8 de julho de 2007

uma saudade

Hoje, acordei com saudades. Saudade não daquilo que passou, mas das coisas que não aconteceram e sobretudo das que deram errado. Dos amores contrariados, senti uma saudade de todos, conforme ia passando em mente cada um deles. Me peguei lembrando dos filmes não vistos, do som das palavras não ditas, do luar das noites não dormidas, do cheiro das flores não entregues, da risada das piadas não feitas, da cor das cartas não escritas e não recebidas, das horas não gastas em conversas por telefone, do sol nos domingos que não passamos juntos, da vida não vivida... Saudades do que poderia ter sido e que não foi.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

corpo-prazer

Sua mãe sempre lhe disse que a pele é o cartão de visitas de toda mulher. Sua avó sempre lhe deu o último pedaço de pão para que se casasse com um médico (simpatia). Agora o que lhe resta é tocar um tango argentino.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

uma outra vida...

Dorme sob um pedaço de espuma apoiada numa caixa e coberta por um pano de algodão. Para não doer o pescoço coloca outro pedaço de espuma forrado por outro pedaço de algodão embaixo da cabeça. Em algum momento seu sono é interrompido por um barulho agudo vindo de uma pequena máquina, a qual, neste momento, acaba se tornando o alvo de suas injúrias, como se esta fosse a culpada por todas as suas mazelas.Em movimentos de dúvida cobre o corpo com pedaços de panos coloridos, de diferentes texturas, caimentos e tamanhos tentando dar uma aparência para este corpo. Agora, com movimentos mais precisos, passa um pedaço de plástico com dentes nos cabelos, no rosto, uma pedra escorregadia que forma uma espuma quando em contato com a água, e outro pedaço de pano felpudo para se secar. Depois de uma seqüência de rituais, pega finalmente um saco de pano para guardar aqueles plásticos com dentes, pedras escorregadias que fazem espumas e todas essas coisas tão essenciais e tão desnecessárias.

Na rua, caminha até um pedaço de madeira bem alto, fincado no chão, onde se encontram reunidas várias pessoas que também usam pedaços de panos coloridos e texturizados cobrindo o corpo. Só que nenhuma se conhece. Neste local marcado pelo pedaço de madeira as pessoas coloridas fazem um gesto com a mão direita e conseguem parar uma espécie de caixa que anda apoiada sobre quatro rodas, transportando confortavelmente todas essas pessoas texturizadas para outro lugar, algumas vão sentadas, outras de pé e outras meio penduradas na porta dessa caixa que caminha sobre quatro rodas.

Depois de terem sido transportados por essa caixa de quatro rodas, ele e todas as outras pessoas coloridas entram em um local onde se produz espumas; panos felpudos, de algodão, coloridos e de diferentes texturas; plásticos; pedras; líquidos; vidros; máquinas que fazem barulhos agudos; pessoas; verdades... todas essas coisas tão essenciais e tão desnecessárias. O seu tempo é contado por uma circunferência com números e ponteiros até ser interrompido pelo barulho agudo vindo de uma pequena máquina, porém, agora essa máquina se torna alvo de toda a sua alegria, abençoando todo o seu trajeto de volta até o pedaço de espuma coberto por um pedaço de pano de algodão.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Qual a diferença?

A pessoa que furou a fila
o ônibus que não parou no ponto;
a bilheteira do teatro que preferiu ficar com 4 ingressos na mão do que distribuir para as pessoas que estavam sem ingresso;
o cara que passou no farol vermelho;

o cara que não deu carona pro colega de cena no dia do espetáculo para que este chegasse atrasado e se prejudicasse;
o cara que não deixa a gestante sentar no banco reservado para gestantes;
a moça que fica na porta de saída do ônibus dificultando a saída dos demais passageiros;
o cara que não foi ao enterro da amiga porque "fica deprimido em enterros";
a menina brigando pelo papel principal,
Os alunos da oitava E saíram mais cedo porque o professor de portugues faltou, estava muito cansado.

as pessoas se matando por um banco vazio no ônibus;
um carro que passou por uma poça d´agua para molhar os pedestres;
uns adolescentes que jogaram ovo em um pedestre;
o amigo que roubou a namorada do amigo;
a pessoa que comeu todo o brigadeiro;
todo mundo se estapeando para ser um protagonista no mundo,
todo mundo quer chegar em primeiro lugar.

então qual é a diferença entre o que fura a fila daquele que arrastou o menino de 7 anos pelos asfaltos do Rio de Janeiro? qual é a diferença? Se a lógica das "minhas vontades são as mais urgentes", qual é a diferença entre os dois casos? o segundo caso apenas leva a lógica em questão às suas últimas consequencias.

Presico de uma ação que me faça acreditar que na humanidade.

domingo, 24 de junho de 2007

uma vida...

Um dia desses, sentada na mesa da cozinha comecei a observar uma fila indiana de formigas. A fila vinha desde a pia e caminhava em direção ao armário. Ao abrir a torneira da pia, algumas caíram se misturando à violência da corrente de água a caminho do esgoto. Elas caíam com uma facilidade que não sei se era uma fragilidade ou um ato heróico. A Formiga tem uma facilidade de dispor da vida que chega a ser bonito.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

restrição

mulher, universitária, atriz, professora, filha, irmã, amiga, inimiga, aluna, prima, jovem, de esquerda, saudável, ciclista, pedreste, motorista, platéia, estagiária, um anjo, simpática, mau humada, feminista, pós moderna, chique, ... , ...
como isso tudo me cansa!

quarta-feira, 20 de junho de 2007

a insônia

A ausencia de sonhos era tanta que ficou com insonia.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

A Biopolítica em 13 linhas

Já tentei de tudo. Ou, quase tudo. Já fiz Yoga, regressão, meditação budista. Já melhorei a postura, parei de tomar refrigerante por um ano, citei Clarice, pesquisei linhas, formas e volume. Já plantei uma árvore. Ainda não tive filhos e não escrevi um livro, mas isso é questão de tempo. Já depilei a perna e as axilas, evitei os taurinos e os escorpianos. Tentei ser mais doce e evitar doces, me amar mais, correr mais, sentir mais, viver mais, relaxar mais, respirar mais pelo nariz, mastigar mais a comida.
E continuo me sentindo uma bolha opaca, suspensa no ar. Vendo a vida girar como se fosse uma roda gigante, com todo mundo dentro: felizes e satisfeitos. Na bolha, sem bilhete ou senha para entrar na roda, espero que algum vento súbito tenha piedade de minha existência me levando daqui, ou, que algum alfinete estoure essa casca.