quinta-feira, 26 de julho de 2007

Um saco

Eu sei que eu tenho que ser mais gentil com as pessoas, respeitar o tempo do outro, ter mais paciência... mas se eu embasso na catraca do busão a galera já começa a xingar. Que não devemos jogar lixo na rua porque a rua é um espaço público, então porque eu sou obrigada a ouvir a música que o cara do carro ao lado está ouvindo, só porque o fofo faz questão de por o som no último volume? Que eu não posso maltratar os animais e que tenho que dar o pão a quem tem fome e água a quem tem sede, mas se eu for demitida eu vou ser chamada de incompetente, e vai ser foda arrumar outro trampo.
eu sei que tenho que... mas eu acho um saco a pessoa que acorda de bom humor e chega no trabalho às 08:00hs da manhã de bom humor!!!! Eu sei... e acho um saco. Acho um saco ter que comer dorianna de manhã porque "me dá força para chegar muito mais alto", comer sucrilhos "para despertar o tigre em mim", lavar minha roupa com omo porque "me sujar faz bem", fazer tai chi porque "me dá mais autocontrole, me ajuda a ser mais paciente e respeitar o tempo do outro". E sempre alguém vai dizer que cidade dos anjos é um filme liiiiiiiiiiiiindo que tem que assitir.... mas eu num tenho saco nem prá iiiiiiiiiiiiiiiisso.
Acho um saco tudo que sei e me fizeram saber.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Uma chance

Depois de todos os furacões, de todas as enchentes, das guerras, das injúrias, depois de todos os sonos perdidos, de todas promessas desfeitas, de todas mentiras ditas, depois de tudo isso, foram de mãos dadas comer algodão doce na praça do correio. Afinal de contas, o amor é feito de coisas banais. Não é mesmo?

terça-feira, 17 de julho de 2007

um adeus

então, eu acho que a gente não tem necessidade de se amar, sabe? sei lá... acho que podemos ser sinceros um com o outro e dizer que... a gente não se gosta mesmo, que nunca se gostou, apenas nos suportamos inevitavelmente, porque de uma forma ou de outra eu dependi de você e você de mim. E nessa convivência suportada até que tentamos ser felizes, tentamos até que bastante coisas; tentamos travar diálogos, compartilhar experiencias; ver tv juntos; tentamos jantares em restaurantes; tentamos sorvetes no sotozero; caminhadas dominicais; viagens; ensinar coisas um para o outro; tentamos ser amigos e amantes; tentamos montar trilhas sonoras que foram o nosso fundo musical; tentamos piadas engraçadas; risadas; terapias; poesias; testemunhos no orkut; manter distância; ser legais; ser compreensivos; ser paciente; ser politicamente correto; a manter a espinha ereta e o coração tranquilo; nos manter sempre jovem, bacanas, dispostos, bonitos, arrumados, cheirosos, depilados, inteligentes e bem humorados; tentamos ficções; tentamos ter saudades um do outro; tentamos nos agredir menos, sermos mais educados, tentamos pedir emprestado antes de pegar as coisas do outro; tentamos cartas em envelopes vermelhos; tentamos o "por favor", o "obrigado", o "muito obrigado", o "de nada", o bom dia-boa tarde-boa noite"; tentamos '''Eu te amo"; abraços; beijos; toques, tímidos porque você nunca gostou muito que te pegassem; tentamos ter assunto todas as noites em que o silêncio era mais forte que as nossas certezas; tentamos até ter gatos em casa para espantar o mau olhado, mas você na verdade nunca gostou de gatos, nem de bicho nenhum. Ensaiamos flores no dias especiais, mas elas sempre murchavam no segundo dia, talvez pudéssemos ter posto algumas aspirinas no vaso das rosas vermelhas, dizem que assim as flores duram mais tempo. O que sobrou? Disso tudo só restou mesmo o "por favor", não! na verdade só sobrou mesmo o "favor", o favor que um faz em suportar o outro, e só... porque é só isso mesmo.
Então, admitamos o nosso fracasso, sem dramas, sem pedidos de desculpas e perdão, e apenas deslizemos sem excessivas aflições de sermos felizes.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Perdi...

Eu perdi uma blusa que gostava muito e custou muito caro, minha saia mais bonita e meu CD da Frida. Perdi também o CD da Madonna que meu amigo me emprestou... até hoje ele não sabe disso, e o CD da marcha nupcial que uma amiga me emprestou uma vez... só que ela sabe que eu perdi o CD dela. Perdi guarda chuvas, um brinco de ouro da Natan que eu ganhei quando fiz 15 anos, perdi minha identidade umas duas vezes, meu patins, minha barraca da turma da mônica, várias partidas de buraco, a chance de ficar calada quando deveria, e de dizer "eu te amo" para quem eu deveria. Perdi a oportunidade de responder a uma ofensa, perdi minha tartaruga, meu vô, minha vó, perdi duas grandes amizades, três amores platônicos e um amor distante. Perdi o ônibus várias vezes, perdi a hora, perdi o ritmo, perdi a chave de casa, trabalho, dinheiro, paciência, perdi o ponto, a prova, alunos, o calendário, a agenda, o ingresso, a cabeça, o estojo, o contato, perdi o vício, perdi a deixa, a fala; a infância, o jogo, o filme, o sono, sonhos, idéias, a fome, a memória, a senha, o telefone, perdi a conta, 2 %da vista, o ar... mas, nunca perdi o vôo.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Um desejo

Se a linguagem exprime, não o faz na medida em que emite ou reduplique as coisas, mas na medida em que manifesta e traduz o querer fundamental daqueles que falam” M. Foucault


Se eu pudesse com essas sete linhas fazer você desamarrar seus sapatos apertados e se deixar levar pelas vírgulas que eu fosse pondo nesse caminho de reticências, daí, então, eu faria você respirar tão profundamente que o seu peito explodiria com a expansão das suas costelas.... com esse papel e essas palavras eu poderia fazer você se perder e se esquecer ao longo das curvas sinuosas formadas pelos meus pontos de interrogação, para, finalmente te assoprar para outros mundos com o meu ponto final.

domingo, 8 de julho de 2007

uma saudade

Hoje, acordei com saudades. Saudade não daquilo que passou, mas das coisas que não aconteceram e sobretudo das que deram errado. Dos amores contrariados, senti uma saudade de todos, conforme ia passando em mente cada um deles. Me peguei lembrando dos filmes não vistos, do som das palavras não ditas, do luar das noites não dormidas, do cheiro das flores não entregues, da risada das piadas não feitas, da cor das cartas não escritas e não recebidas, das horas não gastas em conversas por telefone, do sol nos domingos que não passamos juntos, da vida não vivida... Saudades do que poderia ter sido e que não foi.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

corpo-prazer

Sua mãe sempre lhe disse que a pele é o cartão de visitas de toda mulher. Sua avó sempre lhe deu o último pedaço de pão para que se casasse com um médico (simpatia). Agora o que lhe resta é tocar um tango argentino.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

uma outra vida...

Dorme sob um pedaço de espuma apoiada numa caixa e coberta por um pano de algodão. Para não doer o pescoço coloca outro pedaço de espuma forrado por outro pedaço de algodão embaixo da cabeça. Em algum momento seu sono é interrompido por um barulho agudo vindo de uma pequena máquina, a qual, neste momento, acaba se tornando o alvo de suas injúrias, como se esta fosse a culpada por todas as suas mazelas.Em movimentos de dúvida cobre o corpo com pedaços de panos coloridos, de diferentes texturas, caimentos e tamanhos tentando dar uma aparência para este corpo. Agora, com movimentos mais precisos, passa um pedaço de plástico com dentes nos cabelos, no rosto, uma pedra escorregadia que forma uma espuma quando em contato com a água, e outro pedaço de pano felpudo para se secar. Depois de uma seqüência de rituais, pega finalmente um saco de pano para guardar aqueles plásticos com dentes, pedras escorregadias que fazem espumas e todas essas coisas tão essenciais e tão desnecessárias.

Na rua, caminha até um pedaço de madeira bem alto, fincado no chão, onde se encontram reunidas várias pessoas que também usam pedaços de panos coloridos e texturizados cobrindo o corpo. Só que nenhuma se conhece. Neste local marcado pelo pedaço de madeira as pessoas coloridas fazem um gesto com a mão direita e conseguem parar uma espécie de caixa que anda apoiada sobre quatro rodas, transportando confortavelmente todas essas pessoas texturizadas para outro lugar, algumas vão sentadas, outras de pé e outras meio penduradas na porta dessa caixa que caminha sobre quatro rodas.

Depois de terem sido transportados por essa caixa de quatro rodas, ele e todas as outras pessoas coloridas entram em um local onde se produz espumas; panos felpudos, de algodão, coloridos e de diferentes texturas; plásticos; pedras; líquidos; vidros; máquinas que fazem barulhos agudos; pessoas; verdades... todas essas coisas tão essenciais e tão desnecessárias. O seu tempo é contado por uma circunferência com números e ponteiros até ser interrompido pelo barulho agudo vindo de uma pequena máquina, porém, agora essa máquina se torna alvo de toda a sua alegria, abençoando todo o seu trajeto de volta até o pedaço de espuma coberto por um pedaço de pano de algodão.