quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Um Novo Ano

Voltemos a incomodar o vizinho com a nossa música alta e nossos despertadores, a fechar a janela, a cortina, a porta, e a tampa da privada quando usamos o banheiro, a marcar à caneta um "x" para aqueles que têm feito as suas tarefas... públicas?... regularmente e amaldiçoando as gerações de quem não o faz , aliás... a amaldiçoar, só porque somos em tantos. A tirar o nosso mau humor da cozinha, da sala, do banheiro e deixá-lo no quarto, e se possível trancá-lo bem trancadinho evitando, assim, a fuga de todos os nossos excessos, aflições, ansias...
Voltemos a resgatar os nossos garfos, as nossas panelas, os nossos pratos e nossos panos de prato... a disputar por espaços no varal e nas prateleiras da geladeira, a ver quem chega primeiro no banheiro, na sala e na máquina de lavar roupa, a falar bom dia, oi, olá, tudo bem? tudo, e tu?, também... e por aí vai. A achar que não devemos abrir a porta quando a campainha toca, porque afinal somos em tantos... E a ficar com raiva quando abrimos a porta ao ouvir a campainha tocar, porque afinal eu to cheia de coisas importante prá fazer e somos em tantos...
Voltemos a nos reunir, a tomar decisões juntos e coletivamente, aliás, voltemos a pensar coletivamente, a comer coletivamente, a tomar porre coletivamente (mas cada um com o seu copo, ein!), a assistir a TV coletivamente, a peidar coletivamente, a ser coletivamente, a ficar com raiva e amaldiçoar o senhorio coletivamente, a achar que "eu não tenho nada a ver com isso" coletivamente, a cuidar, amar e tolerar o coletivo coletivamente... porque afinal somos em tan...

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Dois mundos

Durante um show de fado, rir é considerado falta de respeito, infração gravissima, com direito a olhares ameçadores do fadista... num chorinho de samba, falta de respeito é não se levantar para cantar junto e não achar graça!" (Berba)

"A sorrir eu pretendo levar a vida...." já diria Cartola.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Eu não acredito, e ponto.

Que pena, então fizeram você acreditar que com as palavras não poderias dizer tudo?

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Um texto muito bonito, sem título

Que besteira... Eu preciso de alguma coisa. Preciso que alguém se sente aqui do meu lado, só se sentar, não precisa ser muito. Preciso tomar um banho bem quente pra ver se esse frio nos ossos passa, preciso tomar decisões e aceitar tudo aquilo que as escolhas implicam, preciso escrever uma carta pro meu pai porque fazem tres meses que ele fez 63 anos e eu nem sequer escrevi um email de feliz aniversário, preciso aprender melhor a gramática portuguesa e colocar os complementos nos verbos transitivos indiretos. Preciso que essa dor de cabeça infernal passe, preciso tirar aquele o fio de cabelo que está no chão, preciso pensar o meu caminho no CEM até agora, preciso me preparar para a aula da Ainhoa, preciso amar, preciso ser amada, preciso que alguém faça meu almoço amanhã porque eu vou acordar com uma puta preguiça... preciso de dinheiro para pagar o aluguel até o dia 8, preciso criar menos expectativa das coisas, preciso esperar dois minutos para a comida esquentar, e cinco dias para o ano acabar. Preciso saber se eu vou trabalhar amanhã. Preciso dormir, preciso escovar os dentes e passa o fio dental e por o aparelho. Preciso que você fique ai para eu poder estar aqui, preciso me afastar de algumas pessoas para ver se sinto saudades de mim. Preciso de encontros, explosivos, catastróficos. Preciso reler o que Deleuze disse sobre "encontros". Preciso partir. Preciso de um abraço quente da minha mãe. Preciso mudar a mesa de lugar, comprar frutas vermelhas, fazer promessa pro ano novo, me alongar, fazer todas as tarefas que eu escrevi naquele papel que preciso lembrar onde coloquei. Preciso de colo, preciso escrever mais no meu blog, e torná-lo mais visitado e talvez mudar o seu lay-out. Preciso dos dragões que moram comigo, dos morangos mofados, de uma trilha sonora, dos desesperos agradáveis, das badaladas das cinco da manhã, da bruxa, da fada madrinha, da camada de ozônio, do que não foi, perder o medo do que virá, acreditar que a terra não vai morrer, achar a máscara de carnaval que eu comprei em Veneza, que me roubem a bicicleta de novo para eu poder chorar. Preciso de um final. Feliz?

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Um apelo

Alguém pode, pelo amor de Deus, colocar um elevador no prédio? Um elevador daqueles bem velhos, bem barulhentos, para que eu possa ao menos esperar por alguma coisa!!

Obrigada

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

um corpomoto

As vezes eu queria que um terremoto acontecesse. Um terremoto daqueles bem grandes. Daí, então, eu me jogaria no chão como todas as pessoas que querem se salvar. Eu me jogaria no chão e ficaria com todo o meu corpo grudado no chão, mas não faria isso para me salvar. Faria para sentir com a minha pele o chão vibrando e partindo, e sentir as minhas próprias vísceras vibrando e partindo. Eu me entregaria ao desabar do mundo, até o rachar , até o derreter, até o evaporar...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Uma gravidade

Peso... um peso de 54 kilos que passou a tomar conta de algumas horas do meu dia e de meus afazeres sempre tão importantes, tão necessários. Um peso que derepente nao me deixa ver televisão, secar os cabelos, checar meus emails, escolher o tom certo de batom para os meus lábios ficarem mais atraentes, que não permite que eu olhe para trás para poder te ver melhor, que não me deixa sequer poder abrir a porta do teu quarto, acender a luz e pedir que me abrace, um peso, assim tão grande que não me deixa aproximar das pessoas sem que eu as faça sentir pena de mim mesma, um peso que faz com que as berinjelas apodreçam mais cedo nas fruteiras, e faz com que apareçam aquelas mosquinhas que só aparecem quando se tem algo podre e mofando na fruteira. Um Peso que nao me deixa dietar na cama à noite sem com que eu sinta o peso da solidão no interior das minhas vísceras. Um Peso que não me deixa fazer nada do que eu preciso, necessito, penso, desejo e fantasio. Um peso que esquece de lavar os pratos depois do jantar, um peso que deixa o jantar queimar, um peso que me faz ficar dez minutos a tentar escrever essa linha.
Um Peso... de 54kg. Ou melhor, 56 kilos, confesso que engordei dois quilos nos últimos meses.


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Eu peso 54 kilos, e quanto isso me pesa! Alguém, que já imagino, pode chegar-se a mim e dizer:

"mas que disparate, a menina está tao magra! Quem me dera ter 54 kilos!". Mas os meus 54 kilos, talvez por serem meus, pesam-me 54 toneladas. Para a senhora um pouco gorda e um pouco superficial, os meus 54 kilos sao perfeitos. Para mim, sao um estorvo que nao me deixa viver em paz. Os meus 54 kilos ocupam todo o meu tempo e todo o espaço da casa. Enchem sem modos a poltrona que me faz bem à coluna, atravessam-se, como sombras, à frente da televisao, pesam-me o braço quando seco o cabelo, tremem-me os dedos quando vejo o email, retiram-me do alcance de todas as possibilidades. O peso do meu corpo é o peso da minha alma cansada. E esse peso é tao grande que me arrasto no tempo, que me impede os sonhos e o sono que me impele à preguiça e à passividade, quando eu deveria estar a passar a roupa, a alvar os pratos, a fazer a cama, a estudar os livros, a varrer o quarto, a limpar os azulejos da casa de banho... E hoje que nem sequer tomei banho, nem me depilei (há quantos dias já nao me depilo) nem limpei a pele e o tirei obaton e o rimel (ando com eles vai para duas semanas), que nem sequer pensei em pensar em mim, nao me incomodei a maçar-me comigo; com os meus 54 kilos...quero dizer, 56 kilos... confesso que engordei um pouco nos últimos dois meses...

Eu!, que nunca tive vontade de comer!

Por Miguel Ferreira

uma citação

"Vaffanculo a Dio che mi ha fatto amare una persona che non esiste"

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Uma vida de espera

Passei a vida inteira esperando. Esperando os outros, o atraso dos outros, o tempo de cada um, o namorado que nunca tive, a minha maturidade, a aula começar, o jantar, o onibus, as horas passarem, o meu pai aos domingos, tive que esperar dois meses, dentro de uma incubadeira, a vida começar por ter chegado muito cedo. Tudo isso por ter sempre chegado muito cedo pra tudo.