quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Uma gravidade

Peso... um peso de 54 kilos que passou a tomar conta de algumas horas do meu dia e de meus afazeres sempre tão importantes, tão necessários. Um peso que derepente nao me deixa ver televisão, secar os cabelos, checar meus emails, escolher o tom certo de batom para os meus lábios ficarem mais atraentes, que não permite que eu olhe para trás para poder te ver melhor, que não me deixa sequer poder abrir a porta do teu quarto, acender a luz e pedir que me abrace, um peso, assim tão grande que não me deixa aproximar das pessoas sem que eu as faça sentir pena de mim mesma, um peso que faz com que as berinjelas apodreçam mais cedo nas fruteiras, e faz com que apareçam aquelas mosquinhas que só aparecem quando se tem algo podre e mofando na fruteira. Um Peso que nao me deixa dietar na cama à noite sem com que eu sinta o peso da solidão no interior das minhas vísceras. Um Peso que não me deixa fazer nada do que eu preciso, necessito, penso, desejo e fantasio. Um peso que esquece de lavar os pratos depois do jantar, um peso que deixa o jantar queimar, um peso que me faz ficar dez minutos a tentar escrever essa linha.
Um Peso... de 54kg. Ou melhor, 56 kilos, confesso que engordei dois quilos nos últimos meses.


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Eu peso 54 kilos, e quanto isso me pesa! Alguém, que já imagino, pode chegar-se a mim e dizer:

"mas que disparate, a menina está tao magra! Quem me dera ter 54 kilos!". Mas os meus 54 kilos, talvez por serem meus, pesam-me 54 toneladas. Para a senhora um pouco gorda e um pouco superficial, os meus 54 kilos sao perfeitos. Para mim, sao um estorvo que nao me deixa viver em paz. Os meus 54 kilos ocupam todo o meu tempo e todo o espaço da casa. Enchem sem modos a poltrona que me faz bem à coluna, atravessam-se, como sombras, à frente da televisao, pesam-me o braço quando seco o cabelo, tremem-me os dedos quando vejo o email, retiram-me do alcance de todas as possibilidades. O peso do meu corpo é o peso da minha alma cansada. E esse peso é tao grande que me arrasto no tempo, que me impede os sonhos e o sono que me impele à preguiça e à passividade, quando eu deveria estar a passar a roupa, a alvar os pratos, a fazer a cama, a estudar os livros, a varrer o quarto, a limpar os azulejos da casa de banho... E hoje que nem sequer tomei banho, nem me depilei (há quantos dias já nao me depilo) nem limpei a pele e o tirei obaton e o rimel (ando com eles vai para duas semanas), que nem sequer pensei em pensar em mim, nao me incomodei a maçar-me comigo; com os meus 54 kilos...quero dizer, 56 kilos... confesso que engordei um pouco nos últimos dois meses...

Eu!, que nunca tive vontade de comer!

Por Miguel Ferreira

2 comentários:

Miguel Joao Ferreira disse...

Gosto muito do segundo texto...

Miguel Joao Ferreira disse...

:-P o primeiro também se safa :-)