segunda-feira, 10 de setembro de 2007

um dia ... sem final.

Um dia eu acordei e pensei é hoje!
Abri a janela, deixei o sol bater na minha cama juntamente com a brisa leve da manhã, para trazer sorte.
Me levantei, tomei um longo e demorado banho, passei hidratante, perfume, coloquei um vestido de chita, arrumei o quarto, organizei as coisas, fui à feira e comprei lindas berinjelas roxas para enfeitarem a fruteira. Troquei os tapetes, penteei o cabelo, pintei as unhas de vermelho, cor de "deixa beijar", organizei a estante dos livros, coloquei bilhetes de amantes em alguns lugares estratégicos de modo que parecessem que estavam ali por distração e não de propósito. Arrumei um vaso de porcelana chinesa para colocar as flores que provavelmente iria receber mais tarde.
Acendi incenso de cravo, escondi todos os cinzeros da casa. Separei os Cd´s e as piadas que deveria contar para quebrar o gelo, pensei de que seria interessante falar e o que não deveria jamais falar. Ensaiei poses, gestos, risadas, me olhei várias vezes no espelho só para confirmar que eu ainda existia, que eu não tinha ido embora.
Sentei na poltrona de almofada laranja e esperei. Esperei... esperei pelas rosas vermelhas que nunca chegaram, esperei até a berinjela roxa ficar rodeada daquelas mosquinhas de fruteira, até as minhas piadas ficarem sem graça para mim, até o perfume se dissipar, até o tapetes precisarem serem trocados novamente, até as unhas se descascarem, até o vento, o qual antes tinha sido uma leve brisa matinal, levar todos os bilhetinhos que eu tinha separado pela casa toda... não me olhei mais no espelho, porque não queria estar mais ali, mas, então, quem abriria a janela no dia seguinte?
Esperei, esperei que fosse doce e repetia "que seja doce" sete vezes, para dar sorte. Esperei pelo cheiro de alecrim entrando por debaixo da porta, esperei continuar esperando ali sentada junto da almofada laranja, que não sabia de nada.
Que seja doce, que seja doce... eu poderia ouvir o barulho do elevador pelo menos, para pelo menos ter alguma coisa a esperar.
Que seja doce, que seja doce, que seja doce... talvez o cheiro de cravo estivesse muito forte.
talvez o vestido não tenha sido uma boa opção. Talvez eu tenha esperado demais.

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