quarta-feira, 28 de novembro de 2007

um apelo?

(...) você é um atriz. Seu lugar é o palco e não uma sala de aula.
x. x. Diretora teatral.

Quando foi mesmo que o artista abandonou a sala de aula?

Não foram somente as salas de aula que o artista contemporâneo desertou, mas inclusive a própria existência da transmissão do legado cultural herdado de nossos antepassados, leia-se a continuidade do mundo e a responsabilidade de apresentá-lo às novas gerações.
Ao optar por uma carreira artística, o indivíduo não apenas decidiu o que faria de sua vida, ele automaticamente se torna representante de tal tradição, sendo responsável pela sua continuidade, para que esta ainda se mantenha viva para as novas gerações quando a sua for uma lembrança distante. Assim como ele só pôde conhecer tal arte porque seus antepassados cuidaram para que esta se conservasse por entre os fios do tempo através de sua transmissão de geração em geração.
O que leva os nossos artistas de hoje a abandonarem as salas de aula? A restringirem seu ofício à criação, desvinculando-a do ato de narrá-la aos que no mundo ficarão, seja em salas de aulas ou em quaisquer outros lugares.
O que se tem hoje é o catastrófico e impossível divórcio entre o educador e o artista. Impossível porque não se sabe quando e nem porquê e nem a favor de que. Será porque a experiência da arte de narrar está em vias de extinção? Será devido à ruína no mundo ético? Será em decorrência da valorização narcisística do sujeito?
Deleuze cria uma analogia síntese que nos remete ao modo de vida do homem moderno e do atual: a toupeira e a serpente.
Passamos de um animal a outro, da toupeira à serpente, no regime em que vivemos, mas também na nossa maneira de viver e nas relações com outrem. (DELEUZE 1990, p.220)
É nas relações com outrem e principalmente com os mais novos que repousa a interessante metáfora. A toupeira constrói galerias subterrâneas, em meio à escuridão da terra leva uma vida laboriosa, cuida de seus herdeiros, é um animal cooperativo antes de tudo.
Já a serpente não constrói túneis subterrâneos: não deixa legado algum para trás. Não anda em bando, é solitária. Seus movimentos são ágeis, rápidos, ondulatórios, sempre à espreita do bote. Os outros são seus concorrentes, não importa quem seja.
Então, serão então as relações reptilizadas de hoje a causa desse infeliz divórcio?
Precisamos, pois, urgentemente de artistas que tenham um compromisso ético-politico para com o mundo teatral e para com os novos que chegam ao mundo humano. Antes que seja tarde.

Um comentário:

Juliana Dadalto disse...
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