quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Embarque

Siamo venti minuti in ritardo... que seja doce.
Que seja doce a partida e a chegada. Que seja doce estar suspensa no ar. Que seja doce as 12 horas. Que seja doce quando as portas abrirem.
Que seja doce a minha esperança. Que seja doce os tapinhas nas costas. Que sejam doce os sorrisos e os beijos e as mordidas. Que seja doce o "nossa, como você está linda". Que seja doce a saudade. Que seja doce a minha decepção... das pessoas... de mim... da saudade. Que seja doce a minha brutalidade e violência para com aquilo que quero esquecer e para com aquilo que não quero ver.
Que seja doce a dureza, a turbulência do vôo, o suco de laranja de caixinha que eles servem à hora do jantar. Que seja doce a velocidade desse avião, a neblina e a puta dor de ouvido por causa da pressão do ar na minha cabeça. Que seja doce ver a espera da minha chegada nos outros. Que sejam doce os meus momentos solitários, que não terei nada a fazer, ninguém pra ver. Que seja doce o que eu encontrar. Que seja doce o meu sentimento de culpa pelo que deixei. Que seja doce o meu sono até chegar lá. Que seja doce quando tiver passado duas horas e ainda faltar 10 horas e eu ficar impaciente porque não terá nada a fazer além de esperar e sentir essa dor no pescoço, então, que seja doce o mau-humor que virá e a provável insônia.
Que seja doce a distância, qualquer distância... que sejam doce os dias e as horas e a chuva. Que seja doce o atrasos as desculpas por ter deixado esperar. Que seja doce a música alta, a luz na cara e o alcool no sangue. Que seja doce o jantar na quinta, o almoço na sexta e a cerveja na segunda. Que seja doce o "boa viagem". Que seja doce o seu choro.
Que seja doce o regresso e o deixar tudo prá trás de novo. Que sejam doce as lágrimas, as travessias e as saídas. Que seja doce as escolhas, as despedidas, os reencontros, o ciume, o querer ficar, o querer adiar, o não. Que seja doce aquilo que persiste. Que seja doce o estranhar.
Que seja doce quando eu quiser me agarrar a qualquer coisa tua para não te perder de mim. Que seja doce as noites sem as conversas, sem o som das palavras sendo a trilha sonora do contato das pernas, peles, braços, corpos. Que seja doce o não estar mais dessa forma. Que seja doce a lembrança. Que seja doce a saudade. Que seja doce a vontade. Que seja doce o próximo Vôo.
Che sia dolce i giorni senza di noi.

Nenhum comentário: